17 outubro 2006


Estendido na praia dos teus braços,
Acordo.
Acordo com o acordeão dos teus lábios,
Áspero, firme.
Vão e vêm, os teus lábios,
Soltando uma-a-uma as sílabas metálicas...
Esse acordeão, esses lábios, esses acordes.

Acordo.
Acordo com o peito quebrado contra as marés.
E esses meus braços
Torneiam-me, descobrindo-me, cercando-me...

Os teus dedos, os teus foles,
As tuas mãos peregrinas
Dedilham, calcorreando
Geograficamente este meu peito,
Este nosso peito,
Exposto, oxidado,
Quebrado por uma onda
Que nos dividiu como uma romã.

Pouso bago-a-bago nos teus lábios
Esse fruto das intempéries.
E a minha única certeza
É o mar azulino que nos envolve
E o som da velha concertina
Que ainda ecoa,
Dessa praia que são os teus braços.



 Foto ( Madeiro de Tróia) e Texto: Ricardo Fernandes